"É Natal
E Deus fez-se o próximo mais próximo de nós"
Mais importante do que a vaca e o burrinho, que também expressam o
encanto e mesmo o espanto da natureza diante do Mistério de Deus feito
Homem, é o Menino Jesus no Presépio de Belém. E também o são Nossa
Senhora e S. José que O acolhem e com Ele fazem a Sagrada família de
Nazaré. Os pastores representam os mais pobres, os mais débeis da
sociedade, que nem casa têm, mas com toda a prontidão correm para Belém e
descobrem naquele Menino envolto em faixas, como qualquer outro, o
Salvador do Mundo. Não podem guardar esta surpreendente alegria só para
si, mas, com grande entusiasmo, vão pressurosos comunicá-la por toda a
parte. Por sua vez, a indiferença da cidade perante este hóspede divino,
para quem não houve lugar nas casas, faz-nos pensar na actual frieza do
nosso mundo secularizado, que teima em virar as costas a tudo o que
possa ser entendido como sinal de Deus.
Mas Deus continua igual a si mesmo, no quadro do Presépio de Belém.
Não se impõe a ninguém; somente se propõe, sempre muito discreto e
humilde, às pessoas que lhe abrem a porta da sua vida, como aconteceu
àqueles humildes pastores.
Vamos viver mais um Natal mergulhados em profunda crise, que faz sofrer pessoas, famílias e mesmo comunidades.
Há pessoas e famílias que perderam o estatuto de vida social que
tinham, porque lhes foram de repente retirados os recursos. Cresce o
número dos que não têm os bens essenciais para sobreviver, como sejam a
comida e o vestuário. O próprio acesso aos cuidados de saúde começa a
estar em risco para crescente número de pessoas, que já deixam de
comprar os remédios receitados por falta de dinheiro. Continua a haver
empresas que atravessam sérias dificuldades para manterem os postos de
trabalho que criaram. O desânimo está atingir grande número de pessoas
que se vêem fora do acesso aos bens essenciais e também à margem da
sociedade, porque sem emprego.
Felizmente que a solidariedade na partilha de bens essenciais com aqueles que não têm o necessário continua e reforçada.
Perante este quadro preocupante de dificuldades, sabemos que não
podemos esperar do governo e da administração pública aquilo que nos foi
prometido. Pelo contrário, temos a clara noção de que nos vão pedir
cada vez mais sacrifícios para pagar dívidas que nós não contraímos,
embora estejamos conscientes do princípio geral de que quem herda
activos também tem de aceitar herdar os passivos.
Perante este quadro de restrições com tendência para aumentarem, como
cristãos e comunidades cristãs não podemos cruzar os braços; antes,
pelo contrário, pondo em prática a lição do Presépio, queremos estar
perto de todos, a começar pelos mais necessitados. E há muitos que não
precisam de pão para a boca e roupa para combater o frio, mas precisam
do calor da nossa presença. Há gente a precisar do nosso tempo e da
nossa proximidade para vencer situações de desânimo provocadas pelo
desemprego, pela perda repentina do estatuto humano e social que tinham,
ou simplesmente porque estão desorientadas e não sabem o que fazer.
Queremos fazer sentir a todos os que sofrem a nossa presença
solidária, no espírito da caridade cristã, fortalecendo as redes de
proximidade que já temos e criando outras onde for necessário. Esta
queremos que seja a preocupação de todas as nossas paróquias, dos nossos
centros paroquiais e misericórdias; de todas as instituições que temos
voltadas para ajudar a resolver situações sociais mais preocupantes,
como são a Caritas, as Conferências de S. Vicente de Paulo e outras.
Queremos colaborar neste Natal, através da campanha nacional dos 10
milhões de estrelas, para fortalecer a proximidade com os que mais
precisam, segundo o espírito da caridade cristã.
À Sociedade civil em geral queremos levar a mensagem natalícia de que
as redes de proximidade e atendimento personalizado dos indivíduos e
das famílias são o caminho para construir verdadeiro bem estar para
todos. E sentimos que o próprio acto de governar tem de ser, antes de
mais, isto mesmo: criar relações de proximidade com as pessoas,
auscultá-las nos seus anseios, potencialidades e dificuldades para,
depois, com o máximo consenso possível e a cooperação do maior número,
tomar as decisões que o bem de todos impõe, definir caminhos e ajudar as
pessoas a percorrê-los com entusiasmo, mesmo que seja preciso fazer
alguns sacrifícios.
Um santo Natal, com a luz e esperança do Menino de Belém.
Guarda e Paço Episcopal, 13 de Dezembro de 2012
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda